‘Watch Dogs’ traz temática hacker para os games
Cidades conectadas, com sistemas inteligentes de trânsito e segurança que captam dados sobre os hábitos de cada cidadão, são uma forte tendência tecnológica. Assim como pode acontecer com qualquer sistema de computador, porém, elas estão sujeitas a invasões de hackers mal-intencionados, que podem provocar congestionamentos e caos nos chamados da polícia. É esse o mote de um dos principais lançamentos de games do ano: Watch Dogs. Criado pela Ubisoft, o jogo chega às lojas no Brasil amanhã, em versões para PC, PlayStation 3 e 4, Xbox 360 e One.
Situado em uma versão alternativa de Chicago, Watch Dogs (“cães de guarda”, em tradução literal) põe o jogador na pele do hacker Aiden Pearce, que utiliza suas habilidades para interferir no sistema de informações da cidade, podendo roubar dados pessoais, invadir contas bancárias e mudar a orientação do trânsito. “Queríamos fazer um jogo no qual a cidade fosse não só um cenário, mas sim parte viva do game. Usar cidades inteligentes e hackers pareceu fazer sentido para nós”, diz Thomas Geffroyd, diretor de conteúdo do game.
Depois de perder sua família em uma tragédia violenta, o personagem principal do jogo usa seus conhecimentos para, a partir de um smartphone, intervir na cidade evitando crimes e fugindo da polícia. “Ele não é um herói, nem um anti-herói, mas um humano. Suas ações são motivadas pela vingança. Cabe ao jogador escolher como ele vai atuar”, conta o diretor de Watch Dogs, cujo desenvolvimento começou em 2009. O game já venceu duas vezes “o prêmio de jogo mais aguardado do ano” da E3, a maior feira de games do mundo.
Watch Dogs tem todos os ingredientes para ser um hit, embora Geffroyd não fale sobre números. “Só queríamos fazer um bom jogo, que discuta como é viver em um mundo tecnológico”, diz. No País, as expectativas de vendas são altas. Nelson Hirano, da NC Games, que distribui o jogo no varejo nacional, diz que espera a venda “de 400 a 500 mil unidades aos lojistas nos próximos meses”.
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Ficção científica. Para muita gente, trocar as luzes do semáforo só com um celular pode parecer conspiração digna de um filme de ação – acontece, por exemplo, no último Duro de Matar. Mas essa possibilidade é mais real do que parece à primeira vista. Há um mês, o hacker argentino Cesar Cerrudo publicou na web um artigo dizendo que, com um dispositivo de rádio frequência possível de ser construído por menos de US$ 100, ele seria capaz de causar transtornos ao sistema de trânsito de cidades como Nova York e Londres.
“Consegui emitir frequências com informações falsas para alguns sensores de trânsito, que medem o movimento do tráfego e podem aumentar ou diminuir o tempo que um sinal fica aberto”, explica ele ao Link, fazendo a ressalva que, o que o jogo mostra não é possível, mas plausível, caso os celulares usassem a mesma frequência que os sensores.
Para Cerrudo, a falta de segurança dos sistemas tecnológicos das cidades pode gerar imprecisões e atrapalhar sua atuação. “Uma cidade inteligente, sem segurança, acaba se tornando uma cidade burra”, avalia ele. É o que acredita também Dave Maass, porta-voz da Electronic FrontierFoundation, organização que defende a transparência na rede. “Uma cidade que não investe em segurança coloca seus cidadãos em perigo, arriscando sua integridade física e sua privacidade.”
Vitor Fernandes, membro do Garoa Hacker Clube, de São Paulo, faz uma ressalva ao sistema mostrado em Watch Dogs: “Dificilmente uma cidade centralizaria todos os dados em um sistema só. Para mim, o problema de segurança é mais grave para os usuários, que instalam aplicativos e fornecem informações sem saber o que estão fazendo”.
Punks dos PCs. Além de buscar o entretenimento, Watch Dogs quer trazer argumentos e novos personagens para a discussão sobre a segurança na web. “Não basta só dizer que a NSA está me vigiando ou que o Google me oferece propaganda. É entender que somos afetados por isso todos os dias”, diz Geffroyd.
Ele conta ter sentido que estava no caminho certo quando as revelações de Edward Snowden vieram à tona. “Foi como se me dessem um tapinha nas costas”. Maass, da EFF, concorda com o diretor. “Ler sobre questões de privacidade é uma coisa. Ter a experiência em um jogo de hackear e ser hackeado é outra.”
Geffroyd faz questão de informar que todos os truques presentes no game são plausíveis. “Não queríamos fazer o jogador ter de entender linhas de código, porque isso é chato e demorado”, diz, argumentando que a jogabilidade foi uma prioridade.
Outra questão que o diretor de Watch Dogs afirma querer trazer à baila é a de que hackers não são vilões, visão comum na mídia e na cultura pop. “Steve Jobs começou hackeando linhas de telefone para criar a Apple. Mark Zuckerberg usou a abordagem hacker de querer algo eficiente para criar o Facebook. (Ser hacker) é querer que algo funcione”, diz ele. Para o argentino Cerrudo, ser hacker é como ser qualquer outro profissional.
“Existem bons e maus médicos, assim como existem bons e maus hackers”, diz. Maass faz coro a ele, falando sobre o estereótipo hacker em filmes. “Só gostaria que os hackers fossem mostrados de maneira realista, de outra forma que não como punks dos PCs, com luvas sem dedos e que digitam muito alto”, brinca o porta-voz da EFF.
Fonte: Estadão
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